O processo de produção musical em Angola já gerou bastante contestações, este texto trás de volta a abordagem do tema Plagiomoto, termo extraído da palavra terramoto, assim sendo chama-se plagiomoto ao espaço radiofónico do programa RC que aborda as músicas compostas por sample confundindo-se com plágio.
Na verdade os artistas evitam falar sobre este assunto, porque não aceitam como ele é abordado na rádio, muitos chegam mesmo a dizer que Miguel Neto(o apresentador do programa), não procura só apelar a originalidade dos artistas no caso de confirmar-se plágio, mas também e com principal interesse manchar a sua imagem, sobretudo quando já tiveram situações de dissabores. E porquê estamos a tocar nesta ferida? porque depois de alguns anos parado, o plagiomoto volta a rádio e a criar indisposição aos artistas. Segundo Miguel Neto na altura em que criou o espaço, o plagiomoto é o espaço em que os artistas são chamados a investirem na originalidade. “Nível!!!” como é chamado pelos mais chegados, falando-nos oficiosamente reconhece que “Quanto ao sample ser arte lá isso é verdade, mas precisa o artista mencionar que fez”.
Essa situação em que alguns artistas são chamados de plagiadores na rádio, levou-nos a conversar com algumas referências no movimento hip hop lusofóno para entender melhor o que é sample e o que é plágio, muitos mostraram-se indisponíveis para falar sobre este assunto, temendo que as suas opiniões pudessem gerar mais desentendimento, situação não recomendada nem agora nem nunca. O blog percebe perfeitamente e agradece, maior agradecimento vás para Dj Beat Keepa e Gjo que diante nas nossas perguntas responderam:
Beat Keepa (TRACK RECORDS)
BLOG: No seu entender o que é sample?
BeatKeepa: Sample: não precisa ir muito longe, a própria tradução para português por sí diz tudo. “amostra”, fazer sample para mim é pegar uma amostra de uma musica e dar uma nova forma de estar. O mérito do “samplador” está na criatividade e visão.
BLOG: O plagiomoto apresentou algumas músicas como Plagio, que denominação das a estas músicas, plagio ou sample?
BeatKeepa: Na minha opinião é puro plágio. o plagio começa a partir do momento em que a pessoa não divulga a fonte em que extraiu a amostra e em alguns casos nem se trata de extraír amostra mas sim refazer a música. Na minha opinião é plágio sim porque rouba o mérito de quem compôs a música original.
BLOG: e quando se menciona a fonte e não se pede autorização para usar o samble?
BeatKeepa: Aí deixa de ser plágio e passa a se chamar roubo. A actitude de qualquer das maneiras é errada
Blog: Mesmo citando a fonte?
BeatKeepa: Sim porque passa a ser uma questão de dinheiro, estarás a ganhar dinheiro as custas de uma pessoa que não ganha nada e nem te autorizou. É menos grave que o plágio mas também é incorrecto. Principalmente quando a musica tem objectivos comerciais.
BLOG: E o correcto o que é? pedir autorização a Michael Jackson (exemplificando) por uma música sua
BeatKeepa: O correcto seria fazer a musica, entrar em contacto com o autor e/ou Editora que detém os direitos da obra e pedir autorização, negociar os termos de uso e dividir os lucros se autor assim o exigir. Temos que respeitar sempre o dono da obra. Eu particularmente já fiz muitas “boas” músicas mas não cheguei a lançar por não encontrar acordo com o autor.
BLOG: E em relação os softwares de produção musical estes trazem samples, que quase todos os produtores usam, usar estes samples nao é plagio? se sim afinal a que se deve a existência destes sons no software
BeatKeepa: falando de softwares de renome não vejo como correr esse risco porque eles não colocam trechos de musicas registadas nos software, falando do reason, protools, cubase, etc. Os trechos que eles colocam nos programas foram feitos por eles mesmos e as vezes colocam alguns loops de beat simplesmente o que não é plágio.
BLOG: E quando há coincidências de trechos usadas em duas músicas? este Facto aconteceu com Phathar Mak(Angola) e os DRP(Moçambique) nas músicas “Coisas da Vida” faixa nº 4 do álbum sangue, suor e lágrimas e faixa nº 4 do álbum “Era uma Vez” respectivamente. (Phathar Mak Vs DRP – MIX – DOWNLOAD) (*)
BeatKeepa: Eu acredito que essa questão seja muito complexa e merece um estudo mais profundo e ser julgado por profissionais de direito mais competentes. mas na minha modesta opinião o produtor que se preze tem que evitar melodias já compostas. Os fazedores dos programas o fazem para vender pois sabem que os programas além de serem utilizados por profissionais muitos amadores também “brincam” de fazer musica. Eu não aconselho a usar melodias compostas porque corres o risco de desprestigiar o teu trabalho.
BLOG: Neste caso as mixtapes editadas e comercializadas? que comentários tens a fazer?
BeatKeepa: Honestamente eu não concordo com essa “nova” tendência de usar as mixtapes para desrespeitar as obras dos músicos. Pegar instrumental americana sem autorização e gravar uma nova musica na minha opinião é uma palhaçada e um retrocesso as conquistas conseguidas com com muito suor por vários artistas que trabalharam para fazer o hip hop lusófono ser respeitado.
BLOG: Mas estes americanos deixam seus instrumentais na internet com que propósito afinal? não será para usarem nas mixtapes?
BeatKeepa: O propósito é exactamente esse. vocês ainda não se aperceberam da estratégia dos americanos. Nós estamos a ser mentalmente escravizados. Quanto mais nós os emitarmos mais longe estamos de os alcançar.
BLOG: Então concordas que o plagiomoto deve continuar?
BeatKeepa: ya, concordo e gostaria de implementar aqui em Moçambique se tivesse disponibilidade de tempo. É importante para mostrar quem trabalha e quem é abutre. O abutre aproveita-se do esforço dos outros, não vai a caça fica a espera dos caçadores acertarem e depois fica a comer nos restos sem autorização.
BLOG: últimas considerações
BeatKeepa: Precisamos criar, eu não sou contra sample mas aconselho duas coisas.
1. evitar fazer dinheiro com as obras dos outros.
2. sempre que possível buscar samples cá em África (devidamente autorizado, claro) não sou nenhum santo mas se tiver que fazer um sample pelo menos revelarei a fonte.
DjO (GprO)
BLOG: No seu entender o que é sample?
Djo: Wikipedia = In music, sampling is the act of taking a portion, or sample, of one sound recording and reusing it as an instrument or a different sound recording of a song.
Traduzido pelo google = Na música, a amostragem é o ato de tomar uma parte, ou amostra, de uma gravação de som e reutilizá-la como um instrumento ou uma gravação de som diferente de uma canção.
Não serei eu a inventar a roda, achava que já tínhamos passado o tempo de supormos ou cada um ter a sua opinião sobre algo que já está definido…Mas já que insistem : Sample para mim é um trecho, geralmente curto, de uma música existente que é reutilizada de variadissimas formas podendo-se assim criar e tocar uma nova música.
BLOG: O plagiomoto apresentou algumas músicas como Plagio, que denominação das a estas músicas, plagio ou sample?
Djo: Das que ouvi, apenas deram exemplo concreto com a música da Pérola por isso só posso comentar. Será plágio se não compraram os direitos de autor da música para produzir uma versão em português. Se isso foi feito, não se trata de plágio, trata-se de fazer uma versão autorizada de uma música já existe. Se não foi feito…bem…
BLOG: De acordo com o seu conceito de sample quando é que essa pratica é considerada plagio?
Djo: Há países com isso estipulado é bem regrado. Se a tua musica é semelhante a de outro, passa a ser plágio se tiver um numero X de “tempos” ou compassos em que as notas e as progressões ou outras características da musica for idêntica torna-se plágio. Não há nada a inventar, outros já o estudaram.
Mas isso se aplica mais quando se cria musicas semelhantes. Quanto ao sample, poderemos facilmente ser chamados de plagiadores se cortarmos 4 a 8 tempos de uma música e colocarmos em baixo os drums e tá a andar…Eu chamaria de MAU SAMPLING mais que outra coisa, mas essa é a minha opinião.
BLOG: há muitos plágios em Moçambique?
Djo: Em Moçambique existe e há varios anos e continua. Várias pessoas pegam em hit´s internacionais, recriam o beat igualzinho, claro que a sonoridade é diferente pelos meios de produção e mistura, e depois cantam em português ou outra língua. Mesma melodia, outra língua… Existem vários a fazer isso, mas há um que se destaca porque faz muito sucesso e poucos percebem pois esse não copia hits internacionais modernos, mas alguns menos populares e mais antigos, então faz-se passar por grande produtor.
BLOG: Que incentivos tu deixas para quem pratica o samble?
Djo: Não preciso incentivar…quem está a criar realmente sabe que o faz e por isso nunca se deixará abater pela ignorância ou inveja de outros . . . O sampling é uma arte, o sampler é o instrumento moderno. É só andar para a frente…
BLOG: Última pergunta, do rap feito em Angola maioritariamente o que já ouviu é sample ou produção? ja identificou algum plagio?
Djo: O sample é produção… mas percebo a pergunta. Não sei dizer porque não acompanho com tanta intensidade. Identifico muito estilo americano em alguns casos (mais que em Moçambique), noutros a parte angolana bem patente nos sons…plagio, o último que me lembro foi um sucesso RnB vosso de há uns 5 anos atrás…Mas como disse, não acompanho o suficiente para opinar com segurança.
NOTA:
Esta reportagem não é um beef nem incentivo para criar-se desarmonia com o Programa RC ou o seu apresentador Miguel Neto, quando se pensou em fazer isso, solicitamos e nos foi enviado alguns trechos passado no espaço plagiomoto para a analise e apreciação da comunidade hip hop espalhada na diaspora.
Façam download do plagiomoto e não deixem de comentar se é plagio ou sample
(*) – musica completa de Phathar Mak e os DRP usada neste texto – DOWNLOAD
PLAGIOMOTO – DOWNLOAD
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